SRF, Israel e o “inferno absoluto na terra”


A equipe editorial da SRF aparentemente percebeu que tinha ido longe demais. Após uma entrevista de rádio com Stephen Cornish, diretor suíço da organização humanitária Médicos Sem Fronteiras, eles adicionaram a seguinte nota no portal online da emissora: "A SRF traduziu as palavras de Cornish, mas não compartilha sua avaliação."
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É extremamente raro que um veículo de comunicação se distancie da declaração de um entrevistado — afinal, tais entrevistas são conduzidas precisamente com o propósito de permitir que alguém de fora apresente sua perspectiva. A SRF cita o motivo do distanciamento como o "uso duplo do termo 'genocídio'" por Stephen Cornish, o que nenhum tribunal ainda estabeleceu. "A SRF se baseia na Convenção das Nações Unidas para a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio."
É improvável que esta palavra seja a única razão para a ação extraordinária: o que a Rádio SRF fez em "Rendez-vous am Mittag", o programa de notícias mais popular da Suíça, com cerca de 400.000 ouvintes, dificilmente é compatível com suas próprias diretrizes jornalísticas — e provavelmente causou espanto até mesmo entre ouvintes críticos de Israel.
Israel é o único culpado por tudoStephen Cornish disse na entrevista: "Todos os dias (...) vemos pacientes em recuperação em filas para receber comida e, infelizmente, sendo baleados pelo exército israelense." Ele fala de um "inferno absoluto na Terra", de "ataques indiscriminados", de "crianças famintas", de "execuções de civis". Ele afirma que Israel é o único responsável por todas essas atrocidades.
O jornalista simplesmente deixou Cornish falar, sem uma única pergunta crítica, sem qualquer contexto. O Hamas, que usa a população como escudo humano e rouba uma parcela significativa das entregas de ajuda humanitária , não foi mencionado na reportagem. Também não foi mencionado o fato de que vários estados árabes recentemente pediram ao Hamas que deponha as armas e finalmente liberte os reféns para pôr fim ao sofrimento. Para Cornish, tudo está "exclusivamente nas mãos do governo israelense e das Forças de Defesa de Israel", que massacraram pessoas inocentes sem motivo. A SRF simplesmente deixou isso como se fosse um fato incontestável.
Ele atua como limitação de danosA emissora é repetidamente criticada por sua cobertura da guerra na Faixa de Gaza, o que é inevitável considerando um tema tão emotivo. No entanto, a Autoridade Independente de Reclamações já repreendeu a SRF por violar o princípio da diversidade na questão Israel/Palestina, ou seja, por reportar de forma muito unilateral.
Questionada, a Rádio e Televisão Suíça afirmou que cobre o conflito de forma "ampla e diversificada" e se referiu a uma página no srf.ch onde todas as reportagens relacionadas estão compiladas. "Neste caso específico, o objetivo era apresentar percepções, perspectivas e avaliações da situação atual em Gaza, no espírito de um relato de especialista ou testemunha ocular." O representante dos Médicos Sem Fronteiras tem "legitimidade para comentar a situação humanitária em Gaza".
O fato de a SRF ter se distanciado posteriormente de uma declaração feita pelo entrevistado em sua plataforma online indica que ela considera o assunto não totalmente inofensivo. Parece mais uma forma de controle de danos. Por que não reagiu durante a transmissão? "Isso teria sido melhor, mas não foi feito às pressas durante a produção", escreve a SRF. "No entanto, é importante que a classificação tenha sido fornecida prontamente e de forma transparente." Acontece que quase ninguém mais percebe uma "classificação" subsequente como essa.
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